Escrever-te?

Posted by Uma Coral chamada Petra on quarta-feira, 31 de março de 2010


Escrever-te ?!?
Ultimamente começo, mas nunca acabo. E na maior parte das vezes apago o pouco que escrevo.
Acho que já não sei escrever para ti. E tu o que achas?

A carta que tinha raiva nas palavras...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sexta-feira, 5 de março de 2010

foto: Ciclio Barroso


Ao contrário do que se possa pensar, sinto que ao abrir estas cartas estou a assimilar mais qualquer coisa. Voltei ao odor azedo, ao sabor agreste das cartas que te escrevi. Estou a lê-las pela sua ordem, da mais antiga até…àquela que me apetecer.
A data assinala o mês de Janeiro 2008. Sensivelmente três meses depois de nos separarmos. A hora era já tardia e morosa. Cinco horas e doze minutos…da madrugada. Muitas das minhas madrugadas eram passadas em claro. Aquela era apenas mais uma em que o descanso e o sossego tinham ido para longe.
Depois de umas semanas sem o fazer, voltei a escrever-te. Tinha o meu coração como que apertado por duas mãos grandes e fortes. Eram as tuas. A sensação era asfixiante e desconfortável.
As tuas mãos, as mesmas que um dia tiveram o dom de tocar o meu coração, estavam agora a esmaga-lo.
Tinha consciência que ao escrever-te isso, ouviria o mesmo te ti. Que te esmaguei o coração sem dó nem piedade. Eu sabia. Esmaguei-o com posturas que tu não compreendias e eu sabia não terem sido as melhores. E provavelmente também tinha esmagado o amor que tinhas dentro dele. Eu sabia. Sabia que esse amor que me dedicaste durante todo aquele tempo poderia não ter resistido.
A nossa relação já se conjugava no passado, no pretérito perfeito. A mesma relação que esteve muito perto da perfeição. Mas isso foi antes de a transformarmos numa relação carregada de imperfeições. E isso continuava a doer. Doía mais do que eu algum dia pensei. E trazia outra vez o choro. Outra vez as lágrimas. As lágrimas e os soluços. Eu não controlava. Era impossível. E por mais que eu não quisesse, os sentimentos maus começavam a aparecer. A raiva. A raiva apareceu e instalou-se dentro de mim. Tinha raiva de ti. Como podia eu ter raiva de ti? Mas tinha. Naquela fase tinha. Tinha raiva de ti, e tinha raiva das pessoas que se infiltraram na nossa vida. Mas a pessoa de quem mais tinha raiva era de mim. Porque me tinha perdido num labirinto de sentimentos. Perdi-me, e depois não sabia qual o melhor caminho a prosseguir. Eu queria um trilho, um atalho que me levasse até à saída daquele estado. Mas não encontrava. Por isso sentia raiva. Porque me sentia sem forças, sem energia. O labirinto parecia-me gigantesco. E era. Astronómico, excessivo e desmesurado. Por isso sentia raiva. Porque eu queria o meu amor de volta e…pela primeira vez já não acreditava que ele voltasse. Raiva, porque me sentia carente. Carente de ti. Raiva, porque afinal eu acabava por ser igual a toda a gente na hora de me descontrolar. Porque também precisava de usar máscaras como forma de defesa, e eu odiava fazê-lo, mas tinha necessidade de atacar quando o faziam comigo.
Raiva, porque quando falava de ti e de nós, o verbo já era conjugado no passado, no pretérito perfeito. Nós que estivemos perto da perfeição. A nossa relação, que esteve tão perto da perfeição. Mas isso foi antes, muito antes de a transformarmos numa relação carregada de imperfeições…e talvez a minha raiva maior fosse essa.