Memórias de um São Valentim enraivecido. ( Só porque gosto muito do texto , porque não acredito em Santos Padroeiros, muito menos do amor. )

Posted by Uma Coral chamada Petra on terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Raiva. Libertar esta raiva que me provém da pele. Ira. Sentimento que nos espicaça a alma sobre quem nos descompõe. E tu ainda me descompões. Alteras-me. Desarrumas todas a minhas ideias. Desajustas todos os meus ajustes. Desordenas todos os compassos deste coração ainda tão cheio de ti. Desregras o sangue que me corre nas veias. Fico tão bloqueada, que nem sei se ele corre ou se estanca instantaneamente. Esta cidade é demasiado pequena para nós. Demasiado sufocante.

14 De Fevereiro. Dia dos namorados. Estúpido dia. Digamos que será um dia de consumismo. Em certos casos até de hipocrisia. O que está mal e não funciona passa a ser prefeito em prol de um jantar num dos restaurantes da moda…porque hoje é dia de quem está enamorado. Há que inventar o dia dos solteiros, o dia dos amantes, ou o dia de quem simplesmente gosta de foder com o coração fechado a sete chaves. Aí existiam mais pessoas a comemorar entusiasticamente.

Se tinha pensado em ti hoje? Claro que pensei. E se não dou muita importância ao dia, hoje senti-o de uma forma diferente. Afinal hoje era o “vosso” primeiro dia dos namorados. O vosso. Tu e outra pessoa. Nada de novo. Mas a merda deste dia vem, como que a espalhar axas para a labareda do excremento que se tornou o meu coração. Posso espancar-me a mim própria, posso insultar-me usando os nomes mais feios, porque sei que isto é límpido masoquismo emocional. Também nunca disse que era boa em matéria de emoções. Talvez possas apontar-me mais um defeito.Emocionalmente descontrolada.

Lembrei-me de ti. Afigurei o presente que lhe darias. Tive saudades tuas. Tive a certeza que ela nunca te ofereceria algo tão original e invulgar como as coisas que te ofereci. Jamais. A menos que tente copiar -me. A menos que te finjas surpreendido. Depois esqueci-me de ti. Fui jantar com as minhas amigas, onde as conversas jamais abordariam o teu nome ou me levariam a ti. No fim de jantar brindaram-nos com uns bombons (que coisa, tão mais dia de s.valentim), daqueles que trazem na embalagem uma frase foleira, mas que somos sempre tentadas a ler. Identificava-se connosco. Li. Guardei silenciosamente. Para que falar de ti? Para que lembrar-te? Nem sequer me lembrei que vivemos na mesma cidade, que os ambientes nocturnos não variam muito, e que hoje quase de certeza, vocês, os casalinhos ou pseudo-casais iriam para o vosso jantar com direito a saída noctívaga. Esqueci-me de ti. Da mesma forma que tu não te lembraste de mim.

Tantas pessoas interessantes à minha volta. Não sei de ti. Para te ser sincera nem me lembro que fazes parte do meu mundo. Talvez porque na realidade já não faças. Ou pelo menos seria assim que eu pensava. Copos com semblante a classe. Olhares que até me furam a pele. Sons que me fazem divagar. Avisto alguém de quem gosto. As excepções que me cativaram a alma daquele teu grupinho de amigos. Sorrio. Abraços. Sorrisos que estou certa de serem sinceros. Olhares que querem dizer algo e não conseguem. Tu também estavas. E não tardavas a ficar ao alcance da minha visão. Taquicardia. Daquela que mais se parece com ataques de ansiedade. Suores frios. Mãos trémulas. Uma breve fuga à casa de banho. Conversas comigo própria. Respirar profundamente. Lágrimas estúpidas e apressadas. A minha postura tem que manter-se inalterável. Viste-me ao longe. Mais precisamente à distância de um bar de dois metros. Não deixei sequer que os nossos olhares se cruzassem. Incomodou-te tanto. Preferias nitidamente que eu não estivesse ali. E eu preferia que corresses a dar-me um abraço a felicitar-me por mais um sonho que estou prestes a realizar. Mas eu estava ali. Tu mantiveste-te quieto. Numa serenidade inquietante. E eu numa efervescência interior que mil palavras não descreverão. Ao teu lado estava ela. Parola como sempre. Saloia. Campónia. Não faz nada o teu género. Não faz, nem que tentes convencer-me. Vestidos de malha, ou lã justas ao corpo, que ela deve achar perfeito, mas que…fica muito aquém de quem usa esse tipo de traje. O cu. Ou as nádegas avantajadas e flácidas, que quando se movimentam fazem lembrar aquela personagem de banda desenhada bem conhecida. O nariz que, diga-se de passagem é bem desproporcional à sua estranha cara. E vamos ficar por aqui. Afinal se ainda me reconheces não faltariam defeitos para descrever a tua namorada. Também sei qual seria o teu argumento. Tu gostas das pessoas pelo que elas são. Nunca pela embalagem que ostentam. A tua cor de pele sofreu uma pequena alteração quando me sentiste próxima. Ficaste de uma palidez transparente. Conheço-te. Reconheço-te. Aquela tua forma de não saber como estar, de não querer magoar, de tentar olhar sem denunciar. Preferias que eu não estivesse ali. Quantas vezes o pensaste? Algumas. Muitas. Os teus olhos nos meus. Coisa de segundos. Breves segundos. Nunca aconteceu. Não tão breve. Estavas ali a menos de um metro de distância. Sorri. Mas fui incapaz de cumprir o ritual dos dois beijinhos e do “olá, como estás”! Esses mimos seriam o passo que me levariam a vomitar palavras carregadas de raiva. Carrego mais um dilema. De saber se seria mais inteligente cumprimentar-te, ou dizer-te um olá misturado com um breve sorriso. Escolhi o último, e tu nem sequer o questionaste. Tal e qual como dois estranhos. Acho que chegamos ao ponto que agrada a quase todos. Passado longínquo.


Enraivecidamente escrito em Fevereiro de 2009

Isto...? Isto pode durar para sempre.

Posted by Uma Coral chamada Petra on quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

foto: Marta Ferreira


“E se aprendemos que precisamos de amor e depois não o temos? E se gostamos disso? E se nos apoiamos nisso? E se construímos a nossa vida em torno disso e depois tudo se desmorona? Conseguimos sobreviver a esse tipo de dor? Perder o amor é como uma lesão num orgão. É como a morte. A única diferença é que a morte termina. Isto...? Isto pode durar para sempre.”

in Anatomia de Grey

Hoje seriam sete.

Posted by Uma Coral chamada Petra on segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


‎" Amor não é uma questão de contar os anos - é fazer com que os anos contem. "

( Wolfman Jack Smith )


Hoje seriam sete. Mas não são. Foram os que foram. E esses contaram. Contaram para a lista dos melhores anos da minha vida. Fomos muito felizes. O que veio depois não interessa. Ainda hoje tenho saudades tuas. Saudades variadas e de formas distintas. Saudades do que senti, do que fui , do que foste e do que fomos. Ainda hoje há algo em mim que me diz que nas voltas do mundo e da vida ainda vamos voltar a encontrar-nos. Não sei de que forma , nem acredito que voltemos a ser AMOR. Mas talvez tenhamos ainda muitos sorrisos a oferecer um ao outro...talvez !!!