Almas gémeas

Posted by Uma Coral chamada Petra on quinta-feira, 18 de novembro de 2010

“As pessoas pensam que uma alma gémea é o seu encaixe perfeito, e é isso que toda a gente quer. Mas uma verdadeira alma gémea é um espelho, é a pessoa que te mostra tudo aquilo que te prende, a pessoa que te chama a atenção para que possas mudar a tua vida. Uma verdadeira alma gémea é, provavelmente, a pessoa mais importante que alguma vez conhecerás porque irá derrubar os teus muros e despertar-te à força. Mas viver com uma alma gémea para sempre? Não. Demasiado doloroso. As almas gémeas entram na nossa vida apenas para nos revelar outras camadas de nós próprios, e depois vão embora.”

in Comer, Orar, Amar



Morrer de Amor. Só um bocadinho...

Posted by Uma Coral chamada Petra on quinta-feira, 21 de outubro de 2010

" As vezes que me senti frágil, sem rumo, sem nexo, engasgada na raiva, sofucada pelo engano, atterorizada pelo futuro que - pasmem-se - não tinha ao lado aquele, o outro e depois ainda mais aquele mais lá ao fundo, estão a ver qual é? pois eu já nem me lembro também. As vezes que se morre de amor, as vezes que se pensa que é desta que nos transformamos em pedra, as vezes que acordamos no meio da noite porque de repente ouvimos a voz, sentimos o cheiro, tocamos na pele de quem já não está nem aí, nem aqui nem em lado nenhum. As vezes que ressuscitei, que olhei para trás e sorri porque já nem sei o nome, porque já nem reconheço a voz quando liga, porque já nem sinto o coração na boca quando leio, quando já nem sei do que morri, e descobri que afinal não se morre de amor, só um pouco, um pouquito talvez, o suficiente para sentir o fundo do mar e voltar à tona, respirar todo o ar perdido, de uma vez só e voltar a embrulharmos-nos na vida. Não se morre de amor. "

in Sem Filtro

Memórias de ti …

Posted by Uma Coral chamada Petra on quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Foto: Sara Sá


“ ...porque só me falam de ti...porque a nostalgia ainda dói...porque tu nunca sairás de mim...e porque eu serei sempre uma parte de ti ...e isso corrói ainda mais !!! A palavra seguinte fica para mim...
E porque tudo me leva até ti...e porque admito a poucos , e porque até a mim custa admitir.
Hoje vi algo nosso. Doeu.
Eu paralisei, precisamente ao mesmo tempo que o meu passo acelerou.
As pernas tremem-me...o teu nome ecoa num tom que me aflige...
...e eu respiro fundo !!! Olho para a porta de madeira escura e trancada com uma chave que foi atirada a um poço.
...e a porta move-se. Fica como entreaberta por um fio onde eu nem sequer consigo passar. E eu paro. Paraliso. O medo paralisa-me. Paro e fito a porta com olhos de quem quer ver para além do que aquilo que me ensinaram a ver...
...o teu olhar, o nosso livro, o nosso sonho...
" nosso ? " Isso já nem sequer existe...
Mas eu continuo...
não sei, se pela dor, ou se pelo trinco que ainda não fechei. Mas isso eu não digo...nem quero dizer. Os teus olhos são de uma cor que eu já nem conheço. Digo eu. Digo a quem finge ...acreditar...
...são verdes...com um toque acinzentado. São os teus. Os mesmos onde eu morei e de onde fugi, ou fui expulsa. Nem sei. Vê lá que ainda não sei...
...vê lá que ...talvez ainda não tenha aceite a ordem de expulsão !!!
Mas mesmo assim , eu sorrio...porque nunca deixei de sorrir...
Mesmo quando te deixei ir.
Sentimento de posse !!! Conheces ? Reconheci-o inúmeras vezes nos outros e jurei nunca o aplicar em mim. E então...
‎...então , as palavras , os gestos, tudo era considerado meu...
mas isso foi antes de eu aprender que nada é nosso...a não ser...nós mesmos !!! “


in Traição, Experiências, Fluoxetina e Suposições


( Porque a Mafalda disse aquilo que a Petra nunca mais voltou a escrever aqui )

Foi há três anos…

Posted by Uma Coral chamada Petra on quarta-feira, 6 de outubro de 2010

…que demos inicio ao nosso fim !

Porque tudo acaba...

Posted by Uma Coral chamada Petra on segunda-feira, 17 de maio de 2010

Acabaram também as minhas palavras para ti.
Já não quero sequer lembrar-te.
Não direi para sempre, mas por agora e por muito mais tempo sei que não faz sentido escrever para e sobre uma pessoa que já não reconheço. A pessoa a quem dirigi todas estas palavras, deixou de existir, e duvido que volte a reencontra-la.
Um dia disse que "matei" a pessoa que era para ti. E "matei", mesmo que lentamente...
E durante estes últimos dias percebi que a tua "morte" em mim era inevitável. Não te dou espaço para uma única palavra que seja.
Acabas de "morrer" em mim.
E o " As Palavras Que Sempre Te Direi " deixa assim de ter voz.
Porque sim...é verdade quando dizem que mais dia, menos dia... tudo acaba.

Especial

Posted by Uma Coral chamada Petra on domingo, 11 de abril de 2010

foto: Taya



Voltar a falar contigo hoje foi tão especial...

Escrever-te?

Posted by Uma Coral chamada Petra on quarta-feira, 31 de março de 2010


Escrever-te ?!?
Ultimamente começo, mas nunca acabo. E na maior parte das vezes apago o pouco que escrevo.
Acho que já não sei escrever para ti. E tu o que achas?

A carta que tinha raiva nas palavras...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sexta-feira, 5 de março de 2010

foto: Ciclio Barroso


Ao contrário do que se possa pensar, sinto que ao abrir estas cartas estou a assimilar mais qualquer coisa. Voltei ao odor azedo, ao sabor agreste das cartas que te escrevi. Estou a lê-las pela sua ordem, da mais antiga até…àquela que me apetecer.
A data assinala o mês de Janeiro 2008. Sensivelmente três meses depois de nos separarmos. A hora era já tardia e morosa. Cinco horas e doze minutos…da madrugada. Muitas das minhas madrugadas eram passadas em claro. Aquela era apenas mais uma em que o descanso e o sossego tinham ido para longe.
Depois de umas semanas sem o fazer, voltei a escrever-te. Tinha o meu coração como que apertado por duas mãos grandes e fortes. Eram as tuas. A sensação era asfixiante e desconfortável.
As tuas mãos, as mesmas que um dia tiveram o dom de tocar o meu coração, estavam agora a esmaga-lo.
Tinha consciência que ao escrever-te isso, ouviria o mesmo te ti. Que te esmaguei o coração sem dó nem piedade. Eu sabia. Esmaguei-o com posturas que tu não compreendias e eu sabia não terem sido as melhores. E provavelmente também tinha esmagado o amor que tinhas dentro dele. Eu sabia. Sabia que esse amor que me dedicaste durante todo aquele tempo poderia não ter resistido.
A nossa relação já se conjugava no passado, no pretérito perfeito. A mesma relação que esteve muito perto da perfeição. Mas isso foi antes de a transformarmos numa relação carregada de imperfeições. E isso continuava a doer. Doía mais do que eu algum dia pensei. E trazia outra vez o choro. Outra vez as lágrimas. As lágrimas e os soluços. Eu não controlava. Era impossível. E por mais que eu não quisesse, os sentimentos maus começavam a aparecer. A raiva. A raiva apareceu e instalou-se dentro de mim. Tinha raiva de ti. Como podia eu ter raiva de ti? Mas tinha. Naquela fase tinha. Tinha raiva de ti, e tinha raiva das pessoas que se infiltraram na nossa vida. Mas a pessoa de quem mais tinha raiva era de mim. Porque me tinha perdido num labirinto de sentimentos. Perdi-me, e depois não sabia qual o melhor caminho a prosseguir. Eu queria um trilho, um atalho que me levasse até à saída daquele estado. Mas não encontrava. Por isso sentia raiva. Porque me sentia sem forças, sem energia. O labirinto parecia-me gigantesco. E era. Astronómico, excessivo e desmesurado. Por isso sentia raiva. Porque eu queria o meu amor de volta e…pela primeira vez já não acreditava que ele voltasse. Raiva, porque me sentia carente. Carente de ti. Raiva, porque afinal eu acabava por ser igual a toda a gente na hora de me descontrolar. Porque também precisava de usar máscaras como forma de defesa, e eu odiava fazê-lo, mas tinha necessidade de atacar quando o faziam comigo.
Raiva, porque quando falava de ti e de nós, o verbo já era conjugado no passado, no pretérito perfeito. Nós que estivemos perto da perfeição. A nossa relação, que esteve tão perto da perfeição. Mas isso foi antes, muito antes de a transformarmos numa relação carregada de imperfeições…e talvez a minha raiva maior fosse essa.

Ouvir-me a mim própria...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sábado, 6 de fevereiro de 2010

foto: Carla Salgueiro

Mais uma carta. Extensa, minuciosa e desenvolvida pela mescla de sentimentos que se sente quando existe uma ruptura.
Nem um mês tinha passado desde o fim oficial e anunciado. A pessoa para quem mais escrevia eras tu.
Mais uma carta. Não me lembro se foi escrita durante a noite ou sob a luz do dia. Sei que mais uma vez estava deitada na cama a pensar. Estava sempre a pensar em tudo o que os meus olhos viam, nos sons e palavras que iam chegando aos meus ouvidos. Mas os sentimentos, os sentimentos… eram eles que me ocupavam mais a mente.
Não me lembro se havia sol ou lua. Sei que estava estendida na cama a pensar que tu já não estavas ali. Nem tu, nem ninguém. Ali só restava uma pessoa…eu. Mesmo que errante, eu continuava a ser a pessoa mais importante. E apesar daquela nuvem triste a planar em cima da minha cabeça, eu nunca me esqueci do muito que era, e sou, no meio de tanta futilidade e pequenez que mundo me tinha mostrado. Eu sabia que por mais sozinha que me sentisse sem ti, nunca estaria realmente só. Porque tu não eras a única coisa boa na minha vida. Eu tinha mais. Muito mais. E esse mais, que é muito mais do que tu possas imaginar, composto por sentimentos e pessoas devolviam-me o sorriso quando só me apetecia chorar e destilar a minha dor. Estiveram sempre ali, a relembrar-me todas as razões que eu tinha para sorrir. E tinha. Ao contrário do que eu pensava, o meu mundo afinal não tinha saído do sítio. Sentiu-se um tremor sim, mas o meu mundo e as minhas pessoas continuavam ali. Estavam comigo. Gostavam de mim. Mais do que isso…não queriam modificar-me ou restringir-me a determinadas condições. Agarravam-me na mão nos momentos de descontrolo maior. Livravam-me do pânico. Olhasse para onde olhasse sentia-as perto de mim, e ninguém conseguia afasta-las…ao contrário de ti.

Agora vejo o quanto estava sensível. Mais sensível do que o normal. Um pouco mais susceptível e desequilibrada até. Oscilava entre dois extremos...Dois estados de espírito completamente opostos. Passava facilmente do riso às lágrimas e vice-versa. As lágrimas apareciam quando me lembrava do “lixo humano” do qual estávamos rodeados. As lágrimas eram frequentes porque as minhas emoções estavam mal geridas, porque eu ainda gostava de ti e tu de mim, e saber que num ápice deitamos tudo a perder, doía…

Apesar de tudo o que estava a fugir-me das mãos, eu ainda sorria. Sorria porque continuava a ser eu, porque havia ainda quem me olhasse com enternecimento, porque havia ainda quem me observasse e visse aquilo que eu não dizia. Para eles as minhas qualidades estavam muito acima dos meus defeitos. Tu apontavas-me os vícios e imperfeições e os meus amigos acentuavam-me as qualidades. E eles também sabiam das minhas desordens, dos desalinhos da minha mente, das confusões da minha natureza. Só que enquanto tu duvidavas da minha índole, eles lembravam-me que não era o meu caos interior que me roubava o carácter. Os meus amigos foram tão, mas tão importantes. Sempre soube. Mas hoje, passados mais de dois anos, ao ler esta carta repetidamente, sei que se não os tivesse ao meu lado, seria tão… mas tão mais difícil.

As minhas emoções estavam cabalmente desgovernadas. A ultima vez que tínhamos estado juntos tu estavas abatido e com uma expressão quase transfigurada. Lembro-me de olhar para ti e pensar: “ Como é possível que a minha forma de ser, te tenha magoado tanto? “.
Pela primeira vez senti que afinal não gostavas de mim por inteiro. Achavas que eu me dava demais às pessoas. E isso para ti era um defeito. Ou talvez não fosse um defeito, mas a certa altura começou a incomodar-te o que os outros pensavam.
Perguntavas vezes sem conta se ia revoltar-me contra o mundo e dizias que os outros não tinham culpa. E na verdade não tinham. Pelo menos a culpa maior não era deles. Culpa… tive eu que me deixei levar por emoções baralhadas e depois não soube -las no sítio. Culpa tiveste tu, que deixaste que algumas posturas menos boas invalidassem muito do que fomos e do que vivemos. Culpa… tivemos nós quando nos preocupamos em atribuir culpas a alguém…

Agora vejo o quanto estava frágil. Ainda mais frágil me sentia aos teus olhos. A cada conversa que tínhamos a minha fragilidade aumentava. E sim, a certa altura senti-me desconhecida aos teus olhos, como um dia te disse.
Entendes agora a minha decisão de ficar em silêncio? Eu não podia continuar a alimentar discussões e suspeitas.
Entendes agora a minha escolha de nem sequer querer ouvir? Se eu não podia calar as vozes que me atormentavam, podia escolher não ouvi-las…
Mas eu continuava a escrever para ti. Porque ao escrever para ti, estava ao mesmo tempo a ouvir a pessoa que mais precisava… a mim própria.

Fim anunciado…

Posted by Uma Coral chamada Petra on terça-feira, 26 de janeiro de 2010

foto: Vieirinha



Depois de aberto o baú, eu vou reler as cartas todas. Nas minhas mãos tenho a carta do fim anunciado. Lembro-me como se fosse hoje de quando a escrevi. As lágrimas escorriam ao mesmo passo de cada sílaba. Estava frio, muito frio. Era fim-de-semana e nesse dia mudava a hora. Eu estava despedaçada e tranquei-me dentro do meu próprio mundo. Não me interessava nada do mundo que corria lá fora. Lá de fora só conseguia ver a noite que era de lua cheia.
A minha alma estava gelada, desesperadamente gelada e atónita. Eu só queria estar comigo. Eu, a minha dor, e claro, a caneta e o papel. Nessa noite abandonei todas as cegueiras. Os meus olhos estavam sempre a transbordar de água e o chão daquele quarto parecia abanar. Na verdade era o meu mundo que parecia estar a sofrer um sismo. Deixei-me estar deitada naquele quarto de hotel a escrever. Só ali estava distante de uma parte do mundo lá fora que parecia empenhado em magoar-me ainda mais. Só ali conseguia estar comigo. Só ali me sentia a salvo e resguardada de criaturas e matérias que pudessem inflamar e espicaçar o que de pior havia em mim. Só ali me sentia protegida de espiãs maldosas e famintas de me colocarem no banco dos réus. Naquela altura todas as minhas posturas eram condenáveis. Tudo o que eu fizesse era observado ao milímetro e a acusação mais frequente, era que eu gostava de ser o centro das atenções. Só que a distinção entre mim e essas pessoas, era fácil de perceber. Eu não precisava de fazer absolutamente nada para que isso acontecesse. Enquanto que elas viviam constantemente a provocar situações para que as colocassem no centro.
Estava cansada de acusações medíocres e mesquinhas que incluíam o uso e abuso da minha inteligência para o mal. E eu tinha pena de certas pessoas, porque inteligência era algo que nunca tinha vivido na cabeça delas, logo não podiam saber que uma pessoa que a possua tem muito mais o que fazer com ela.
O nosso fim tinha sido anunciado. Já não restavam dúvidas. O fim era oficial. A decisão foi tomada a dois depois do primeiro passo que eu já tinha dado. Tu sabias que não ia ser fácil. Eu sabia que ia custar muito. Mas ambos sabíamos ser a decisão mais certa. Arriscávamo-nos a deitar por terra também a nossa amizade. E isso, nós não queríamos. Aliás…isso para nós era impensável. Não valia a pena tentar prosseguir com uma relação que há já algum tempo não funcionava.

Naquela noite eu estava atordoada…os dias anteriores tinham sido de desassossego e sobressalto constante. Naquela noite, tentei mentalizar-me ao escrever para ti de que aquilo era de facto o melhor para os dois.
O espelho mostrava-me a diferenças, as incompatibilidades, e eu tentava mentalizar-me dos universos diferentes, das nossas discrepâncias enquanto pessoas. E eu tentava mentalizar-me que o nosso encaixe se tinha despedaçado, parte por parte, em pedacinhos pequeninos.
Lembro-me de sentir medo de não conseguir superar. Lembro-me de chorar. Chorar muito. De recordar as coisas boas que vivemos. Eu só queria guardar o melhor de ti.
No meio de tantas dúvidas, naquela noite tive a certeza de que não queria perder o norte, nem o rumo da minha vida, e muito menos existir e coabitar num mundo com o qual não me identificava. Tu sabias que ser eu própria era algo indispensável na minha vida. Sempre soubeste. E também sabias que estava fora de questão deixar de ser eu.
Naquela noite vi todos os meus erros estampados no espelho. Reconheci-os todos. Um a um. Eu sabia que muitos deles haviam sido graves. Tu também já tinhas reconhecido o teu enorme descuido em não me ouvires quando te lembrava que a nossa relação caminhava para algo, com o qual eu jamais saberia viver. Eu tinha falado tantas vezes. E tu não escutavas, ou se calhar escutavas, mas não arranjavas maneira de saltar o muro que se estava a criar entre nós. Já tinhas admitido o teu maior desacerto. Tinhas-te acomodado. Assumiste que facilmente te acomodaste, e contaste-me daquela obtusa e estúpida ideia de que a nossa vida estava feita e que eu era um dado adquirido.

Estavas revoltado pelo travão que não conseguiste usar, por não teres feito nada para mudar o que estava mal, por não acreditares em mim quando bradava de forma constante que me estavas a perder.
Falaste da ausência de harmonia em aspectos evidentes, das vezes que não falaste ou não insististe em determinados conteúdos, pois eu não gostava e dizia sentir-me ainda mais asfixiada. Foi precisamente aí que se abriu espaço para a distância, e dia após dia ela estava mais patente.

A última conversa que tivemos antes dessa noite… não me saía da cabeça. Tinha a tua voz numa espécie de eco a dizer-me que estavas arrependido, tão arrependido por não contestares, por nem sequer te questionares o que realmente nos estava a fazer mal. Nem quando eu comecei a interrogar-me acerca do que estava a acontecer-nos tu quiseste ver ou reagir. Fomos procurando refúgios para não acreditar…
Durante essa conversa apontamos defeitos e virtudes. Havia uma certa culpa que me querias atribuir num discurso confuso que alternava entre a admiração das minhas virtudes e a desilusão dos meus defeitos. Quando me conheceste eu já era assim. Como tu dizias, nada me chegava, eu queria sempre mais, eu tinha sempre que subir mais um degrau, não podia sentir-me presa num patamar se sabia que havia um patamar mais acima. Tu costumavas dizer que a minha ambição era contagiante. Um dia disseste-me “ é tão bom aquilo que me fazes sentir, sinto que posso ter e ser tudo ao teu lado”. E eu sentia o mesmo. Que o nosso sentimento era tão nobre…que juntos podíamos tudo, porque tínhamos o amor do nosso lado.

Mas nessa conversa o amor já não era só amor. Era revolta, era um sem número de coisas e denúncias mesquinhas. Era a dúvida. A desconfiança. E o amor, o amor pode ter muitas coisas associadas… menos essas.

Por isso é que, eu, naquela noite gélida decidi fugir do mundo, e fechar-me dentro de mim própria. Era a primeira tentativa de página virada…a primeira de muitas.

Eu gostava tanto de ti...Tu gostavas tanto de mim...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

foto: Sara Sa


Ultimamente tenho andado nostálgica. E a nostalgia leva-nos sempre de encontro ao passado. Ou o passado é que nos traz a nostalgia. Talvez seja isso, não sei bem.
Sei que hoje voltei lá mais uma vez e encontrei todas as cartas que te escrevi desde o inicio do nosso fim. Sim, porque as outras, ficaste tu com elas anexadas a todas as caixas e baús, todos os postais e fotografias. Dói-me pensar que tudo isso está num anexo qualquer da tua casa. Dói ainda mais pensar que possam já não existir, que tenhas tido a coragem de destruir esses pedaços da nossa história.
Comigo ficaram as cartas que nunca te entreguei, as outras que te ofereci mas que tu nunca leste. As secretas que nunca me atrevi a mostrar a ninguém, e as outras que ousei mostrar ao mundo.
Hoje reli a primeira de muitas que escrevi quando os nossos sentimentos pareciam estar a despenhar-se. Mesmo com os sentimentos em colisão frontal, eu sabia que continuava a gostar de ti. Preocupava-me contigo. E mesmo com o fim à vista eu continuava a acreditar que gostarmos um do outro chegava. Eu só precisava de espaço. E eu achava que aquele espaço seria a nossa “salvação”. Tu não entendias. Faltou-te a capacidade para entender que quando eu dizia estar farta, era porque sentia que estávamos perante uma relação completamente desgastada. Tu não compreendias quando tentava explicar o sufoco que as nossas diferenças se tinham tornado. Eu também não conseguia perceber como é que ao fim de três anos eram as nossas diferenças as culpadas. Porque diferentes… sempre fomos. Mas tinham sido precisamente essas diferenças a fazer-nos sentir completos um ao outro.
Tu eras a calma e a serenidade. Eu era a agitação e o alvoroço. E juntos, tínhamos a liberdade de sermos nós mesmos.
Eu gostava tanto de ti. Tinha orgulho em ti, orgulho do nosso amor, do nosso encaixe de personalidades apesar das nossas diferenças.
Tu gostavas tanto de mim. Gostavas de mim por inteiro. E eu gostava ainda mais de ti por isso. Por gostares de mim e de todos os outros “eus” existentes em mim.
Sorrias sempre que olhavas para mim. Sorrias e dizias que gostavas quando me ouvias filosofar a meio de uma conversa. Sorrias ao mesmo tempo que me chamavas curiosa, e dizias que nunca conheceste ninguém como eu, que perguntava tudo, que observava tudo. Tu gostavas de mim. Isso estava escrito nos teus olhos. Gostavas de mim de qualquer maneira. Estivesse eu contente, melancólica, lúcida, sóbria ou alterada. Gostavas de mim porque estivesse eu como e com quem estivesse era sempre eu. E eu gostava ainda mais de ti por me deixares ser eu própria.
Até ao dia em nos fartamos. Até ao dia em que a minha agitação aluiu a tua serenidade. Até ao dia em que a minha impulsividade zangou a tua calma. E ali estávamos nós…fartos, esgotados, a sentir a mágoa um do outro, e cheios de desilusão no olhar.
Fui eu que dei o primeiro passo para o fim. Quis ficar sozinha. Quis reflectir. Tudo à nossa volta parecia estar em guerra, e eu só pensava na paz que queria devolvida. A minha e a tua.
Não conseguia perceber o que estava a acontecer-nos. Não conseguia perceber se estávamos próximos do final, ou se estávamos a um passo de compreender o que realmente queríamos um para o outro. A única coisa que eu sabia, ou pelo menos pressentia, era que quando os meus sentimentos se reorganizassem eu seria uma pessoa um bocadinho mais forte.
O que eu não sabia nessa altura, era que, recompor e reconstruir um coração leva tempo…muito tempo…

Nostalgia estridente...

Posted by Uma Coral chamada Petra on segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

foto: Daniel Pedrogam


A última vez que escrevi, abri um documento de Word com o pensamento e a vontade de o preencher com linhas infinitas, linhas que se transformariam em folhas timbradas por palavras. Palavras. As minhas palavras para ti, as palavras que ainda tenho para te dizer. Por vezes questiono-me se estas palavras, estas palavras que aqui deposito serão realmente para ti ou para mim.
Dirijo-me quase sempre a ti, mas talvez a mensagem maior seja para mim.

No outro dia, quando me lembrei da data, quando o calendário passou a marcar o dia 16 de Janeiro, eu quis falar. Quis escrever, quis saber o porquê daquela data ter ainda a carga colossal que tem na minha vida.
Não consegui escrever mais do que uma linha. Uma frase. Uma frase em jeito de pergunta. A tal pergunta que faço a ti, mas que sei ser mais dirigida a mim do que a ti. Eu sei. É a mim que tenho que perguntar. Até porque tu já nem ouves, nem lês, e nem sequer sabes, que passado tanto tempo, ainda continuo a escrever para ti.

Tu também nunca deste grande importância a datas. Muito menos a datas que já não são para comemorar. Só eu continuo a fazer uma bolinha em volta dessa data. Sempre gostei de efemérides. Tu costumavas dizer que nunca me esquecia dos dias exactos em que as coisas aconteceram. E é verdade. Gosto de datas. De assinalar, de recordar e festejar. Os aniversários. Os dias em que conheci pessoas importantes, os dias em que tomei decisões que tiveram peso e mudança, os dias em que…tanta e infinita coisa. Os dias dos beijos, dos olhares, dos inícios das cumplicidades. E ficaria aqui numa lista interminável sobre os dias das coisas e dos momentos que eu tenho esculpidos na memória.
Naquele dia, ao olhar o 16 que o calendário marcava vi-te também estampado nesse número. Vi-te ali, vi-te tal e qual nesse dia de um dia 16 de Janeiro de há cinco anos atrás, e de tantos outros dias 16 de tantos outros meses, e de outras datas…e de ti com todas as expressões que te conheci. Foi por isso que não consegui escrever mais do que uma linha. Porque fiquei a olhar para ti…a ver-te e a rever-te uma vez mais e mais outra. Foi por isso que não escrevi mais do que uma frase. Não fui capaz. Deixei-me estar. Deixei-me ficar ali... presa no silêncio característico da nostalgia gélida e estridente que se abateu sobre mim.

5 anos...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sábado, 16 de janeiro de 2010

Foto: Clicio Barroso


Será possível que este dia me traga ainda uma nostalgia cortante? Possivel é...agora só falta é saber porquê.

( Fariamos hoje 5 anos... se estivessemos juntos.)